machos
não sei o que me dá, mas não posso ver homens trabalhando com serviços pesados. quando vejo homens com picaretas e pás, levantando pesos e suando, algo desperta dentro de mim. sinto frio e calor, não consigo despregar os olhos dos músculos em movimento, da roupa suja, da concentração que impede que eles percebam uma fêmea ali do lado paralisada, ofegante. hoje vi um rapaz de 20 e poucos anos quebrando uma calçada, com uma britadeira. uma mistura de brincadeira de menino com o vigor de homem, ele ria das pequenas pedras deslizando, os outros passando e rindo com ele, uma comunidade de meninos-homens desafiando a natureza. destruir e construir, sem deixar pedra sobre pedra. quase chego mais perto para sentir o cheiro do homem ali concentrado na tarefa das pedras, os braços fortes em movimento sem me ver. meus olhos fixos em cada parte dele, nem sei se alguém percebeu minha fascinação. vários homens juntos construindo mundos, indiferentes aos caprichos da natureza, indiferentes aos desejos (nem tão) secretos de uma mulher parada na rua, esperando um ônibus na calçada, observando com olhos brilhantes.
o ônibus chega e eu fico olhando ainda muito tempo a obra e aqueles homens que aprendemos desde meninas a desprezar. quando menina eu os via como as lesmas do quintal: com repulsa e prazer maldisfarçado. pois hoje, eu fêmea desprezo toda a assepsia e civilidade, sonho sonhos de violência e sexo, cheios de suor e saliva, com homens cheirando a terra.
o ônibus chega e eu fico olhando ainda muito tempo a obra e aqueles homens que aprendemos desde meninas a desprezar. quando menina eu os via como as lesmas do quintal: com repulsa e prazer maldisfarçado. pois hoje, eu fêmea desprezo toda a assepsia e civilidade, sonho sonhos de violência e sexo, cheios de suor e saliva, com homens cheirando a terra.
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